segunda-feira, 24 de junho de 2024

AMOR

 

AMOR

                                                                                                                                                                            Amemos 

quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Álvares de Azevedo

 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

PARA SEMPRE

 

PARA SEMPRE

O sentimento segue aquilo que amamos.

Se amamos o que é verdadeiro, bom e belo, ele nos conduzirá para lá.

O problema, portanto, não é sentir, mas amar as coisas certas.

Do mesmo modo, o pensamento não é guia de si próprio, mas se deixa levar pelos amores que temos.

Sentir ou conhecer, nenhum dos dois é um guia confiável.

Antes de poder seguir qualquer um dos dois, é preciso aprender a escolher os objetos de amor – e o critério dessa escolha é:

Quais são as coisas que, se dependessem de mim, deveriam durar para sempre?

Há coisas que são boas por alguns instantes, outras por algum tempo.

Só algumas são para sempre.

Olavo de Carvalho

 

IMORTAL CONTENTAMENTO

 

IMORTAL CONTENTAMENTO

Amor, que o gesto humano n'alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.

Luís de Camões