terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

O CAMINHO PARA A CASA DO PAI

 

O CAMINHO PARA A CASA DO PAI: UM BREVE COMENTÁRIO DE JOÃO 14.1-14

JOÃO 14, A CASA DO PAI, JESUS CRISTO.

Introdução

Os eventos narrados no entorno de JoĂŁo 14 ocorrem no final da Ășltima semana do ministĂ©rio terreno do Senhor Jesus, quando Ele se reĂșne com seus discĂ­pulos pela Ășltima vez antes de sua paixĂŁo, morte e ressurreição.

No início desta mesma semana, o Senhor havia chegado a Jerusalém com seus discípulos para a comemoração das festividades da Påscoa.

Ele chegou montado em um jumentinho e nessa ocasiĂŁo foi ovacionado pela multidĂŁo, que dava testemunho de ser ele o rei de Israel, o descendente de Davi. Isso estĂĄ narrado nos versĂ­culos 12 a 16 do capĂ­tulo 12.

Na noite de uma quinta-feira sem precedentes na histĂłria humana, o Senhor discursa aos seus, algum tempo antes de experimentar momentos de profunda agonia e dor.

Nas prĂłximas horas, Ele iria ser traĂ­do, abandonado pelos seus discĂ­pulos e negado por um de seus melhores amigos.

Ele seria julgado ilegalmente e condenado injustamente a cusparadas e chicotadas, ao escĂĄrnio e Ă  morte.

Sabendo o destino que lhe aguardava, o Senhor Jesus se angustiou profundamente, como revelam os versĂ­culos 27 do capĂ­tulo 12 e 21 do capĂ­tulo 13.

Ainda assim, demonstrou profundo amor e sincero afeto por aqueles a quem o Pai lhe dera, como mostra o inĂ­cio da narrativa dessa reuniĂŁo, que acontece no versĂ­culo 1 do capĂ­tulo 13, que diz: “[…] sabendo Jesus que era chegada a sua hora […] tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os atĂ© ao fim”.

Reunidos no cenåculo, naquela reunião de despedida, o Senhor Jesus despiu-se e humilhou-se, lavando os pés de seus discípulos, inclusive os de Judas.

Isso simbolizava a limpeza espiritual que Ele traria ao derramar o seu sangue, o precioso sangue do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

ApĂłs, o Senhor Jesus afastou de entre eles o traidor, o que aconteceu assim que SatanĂĄs tomou o corpo de Judas Iscariotes (13.21-30).

E sem a presença deste, o Senhor Jesus passou a confortar os restantes com suas Ășltimas palavras antes de morrer, demonstrando que, apĂłs sua partida, eles deveriam, acima de tudo, demonstrar amor uns pelos outros. Isso estĂĄ nos versĂ­culos 31 a 35 do capĂ­tulo 13[2].

Os discĂ­pulos, ou apĂłstolos, demonstravam profunda angĂșstia, medo e desespero.

Isso fica mais em evidĂȘncia quando o Senhor Jesus lhes fala claramente que Ele iria deixĂĄ-los, partindo para o Pai, sem que eles pudessem segui-lo (13.33-36).

A angĂșstia, o medo e o desespero dos apĂłstolos aumentaram ainda mais diante da palavra que Jesus dissera a Pedro, isto Ă©, que ele o negaria nĂŁo menos que trĂȘs vezes antes do cantar do galo.

É possĂ­vel imaginar a angĂșstia, o medo e ansiedade dos discĂ­pulos ao saber que, apĂłs trĂȘs anos de companhia, o Senhor Jesus estava prestes a abandonĂĄ-los.

Talvez eles tenham dito: “Mas, Senhor, nĂłs deixamos tudo para te seguir e agora o Senhor estĂĄ nos abandonando?!”

Em resposta Ă  angĂșstia e ao desespero dos discĂ­pulos, o Senhor Jesus dĂĄ continuidade Ă  sua sĂ©rie de discursos que vai atĂ© o final do capĂ­tulo 16.

“O propĂłsito prĂĄtico naquela noite, naquele momento, era diminuir ansiedade dos discĂ­pulos”[3].

Esta parte do discurso, o capítulo 14, até o versículo 14, tem sido dividida de diversas formas.

Eu gostaria de seguir a divisĂŁo que parece mais natural ao texto, que o fragmenta em trĂȘs: a primeira parte, que mostra o caminho para a casa do Pai, do versĂ­culo 1 ao 7; a segunda, que mostra que o Pai Ă© visto no Filho, do versĂ­culo 8 ao 11; e a terceira, que Ă© um estĂ­mulo ao trabalho e Ă  oração, do versĂ­culo 12 ao 14.

1. O CAMINHO PARA A CASA DO PAI

Quando o quadro de confusĂŁo, preocupação e desespero em que os discĂ­pulos estavam e a angĂșstia do prĂłprio Senhor Jesus sĂŁo colocados em evidĂȘncia, Ă© possĂ­vel enxergar a beleza com a qual ele se dirige aos seus. Em vez de exigir apoio em face da angĂșstia da cruz, o Senhor apoia, conforta e instrui seus discĂ­pulos, revelando a profundidade de seu amor. Afinal de contas, o Filho do homem veio para servir e dar a sua vida em favor de muitos (Mateus 20.26-28). Ainda que ele prĂłprio estivesse angustiado, seu sincero afeto fora demonstrado aos discĂ­pulos quando ele se dirige a eles com as palavras de conforto dos primeiros versĂ­culos: “NĂŁo se perturbe o coração de vocĂȘs. Creiam em Deus; creiam tambĂ©m em mim” (v. 1). Suas palavras serviriam de consolo para os discĂ­pulos e faziam referĂȘncia Ă  fĂ© porque somente a fĂ© em Jesus Cristo pode acalmar um coração aflito e perturbado. Existe uma discussĂŁo interessante sobre a tradução do verbo crer aqui neste versĂ­culo. Duas coisas sĂŁo inquestionĂĄveis: primeiro, hĂĄ vĂĄrias maneiras de traduzi-lo; segundo, Ă© impossĂ­vel definir gramaticalmente qual a maneira pretendida por JoĂŁo ao escrever. Sem entrar no mĂ©rito da discussĂŁo, gostaria de adotar aqui a posição de que as duas ocorrĂȘncias sĂŁo imperativas, como bem traduziu a Nova VersĂŁo Internacional (NVI): “Creiam em Deus; creiam tambĂ©m em mim”. Isto Ă©, os discĂ­pulos deveriam continuar descansando em Deus, crendo nele, firmando-se cada vez mais nele, e, obvia e consequentemente tambĂ©m em Jesus Cristo, porque ele jamais os havia abandonado e nĂŁo seria neste momento de angĂșstia que ele o faria. Jesus Iria deixĂĄ-los, Ă© verdade. Mais deixaria com eles o seu amor, a sua alegria (15.11) e a sua paz (14.27).

Como base para consolar o coração dos seus, o Senhor Jesus faz duas coisas. Primeiro, ele apresenta uma realidade. Depois, ele faz uma promessa a respeito desta realidade. A realidade Ă© a Casa do Pai e a promessa Ă© que os discĂ­pulos teriam um lugar garantido para ficar nesta casa. Ele diz: “Na casa de meu Pai hĂĄ muitos aposentos; se nĂŁo fosse assim, eu teria dito a vocĂȘs. Vou preparar lugar para vocĂȘs” (v. 2). A palavra morada, como acontece aqui do versĂ­culo 2, ocorre apenas uma outra vez Novo Testamento. E ela estĂĄ no versĂ­culo 23. O seu sentido mais comum Ă© de “um lugar para ficar”, e havendo vĂĄrios lugares como este em uma casa, quartos, cĂŽmodos, ou mesmo apartamentos sĂŁo traduçÔes bem naturais. Estes lugares para ficar, disponĂ­veis apenas para os seguidores de Jesus, se encontram na Casa do Pai.

Agora, o que e onde seria a casa do Pai? Em 2.16 “a casa de meu Pai” Ă© o templo de JerusalĂ©m. Obviamente, levando em consideração o contexto e a prĂłpria construção do discurso de Jesus, aqui nĂŁo hĂĄ referĂȘncia ao templo, ou a qualquer lugar aqui na terra. A casa do Pai Ă© o lugar prometido ao longo de toda a Escritura como o destino daqueles que creram em Jesus e, pela fĂ©, receberam dele a remissĂŁo dos pecados, tendo se comprometido a segui-lo por todos os dias da vida. A Casa do Pai tem espaço mais que suficiente para todos estes.

Infelizmente, a mensagem que geralmente ouvimos hoje trazem conceitos errÎneos sobre o que é o céu. Ao invés de ouvirmos que a Casa do Pai diz respeito ao gozo de estarmos transformados e na presença de Jesus, o enfoque principal tem sido, muitas vezes, naquilo que teoricamente os crentes irão receber ali. Para muitos o céu é uma espécie de parque de diversÔes paradisíaco com variedade indizível de prazeres infinitos. Em suma, muitos acreditam que a casa do Pai é uma terra do prazer, como a Terra do Nunca ou a Disneylùndia. Não pode haver maior absurdo. Toda esta ideia é uma maneira simplesmente humana e carnal de considerar a eternidade. Não é isso que as Escrituras ensinam.

NĂŁo Ă© preciso muito esforço para notar que ao falar sobre a Casa do Pai, o Senhor Jesus nĂŁo estĂĄ preocupado em demonstrar a beleza ou a qualidade de seus quartos. O texto diz: “E, quando eu for e preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocĂȘs estejam onde eu estiver” (v. 3). Sua intenção Ă© mostrar que, na casa do Pai, em tempo oportuno, os discĂ­pulos poderiam desfrutar novamente de sua gloriosa presença. Na verdade, no inĂ­cio desta mesma semana ele jĂĄ havia dito que seus servos teriam o privilĂ©gio de segui-lo e desfrutar de sua companhia (12.26). Deste modo, seria ele mesmo quem os transportaria pessoalmente para a Casa do Pai.

Os discípulos ficaram preocupados quando Jesus falou que iria partir para o Pai. Aqui, o Senhor mostra que não haveria motivos para tal preocupação, porque no final das contas eles seriam grandemente beneficiados com esta partida. O motivo de sua partida era preparar-lhes um lugar. Após, ele voltaria para se reencontrar novamente e para levå-los consigo para que desfrutem para sempre de sua companhia.

 Este reencontro Ă© descrito como o momento em que o Senhor descerĂĄ dos cĂ©us para reunir os crentes vivos, nĂŁo sem antes ressuscitar os crentes mortos, por meio de um arrebatamento sobrenatural, a consumação da comunhĂŁo entre o Senhor e aqueles que lhe pertencem. HĂĄ evidĂȘncias desse acontecimento magnĂ­fico em 1CorĂ­ntios 15.51-54 e 1Tessalonicenses 4.13-18. Todavia, Ă© importante lembrar que, ainda que a referĂȘncia do Senhor aqui seja ao seu retorno sobrenatural, para o crente, a prĂłpria morte Ă© encontrar-se com o Senhor na Casa do Pai, como atestam 2CorĂ­ntios 5.8 que diz: “Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (ARA); e Filipenses 1.23: “[…] tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que Ă© incomparavelmente melhor” (ARA).

ApĂłs mostrar que a beleza da Casa do Pai estĂĄ em sua presença para sempre, o Senhor Jesus faz uma afirmação que deixa os discĂ­pulos, principalmente TomĂ©, um tanto quanto confusos. Ele diz: “VocĂȘs conhecem o caminho para onde vou” (v. 4). É bem verdade que muitos manuscritos da BĂ­blia trazem um texto um pouco maior aqui. Nas versĂ”es em portuguĂȘs, a que melhor transmite esta situação Ă© a Almeida Revista e Corrigida (ARC), que aqui diz: “Mesmo vĂłs sabeis para onde vou e conheceis o caminho”. Quase todos os manuscritos mais antigos, exceto um, trazem o texto reduzido. O sentido do texto mais longo Ă© importante, porque constrĂłi o caminho para a prĂłxima pergunta de TomĂ© de maneira mais suave: “Senhor nĂŁo sabemos para onde vais; como entĂŁo podemos saber o caminho?” (v. 5). Em outras palavras, Ă© como se o Senhor dissesse: “VocĂȘs conhecem o caminho. Portanto, nĂŁo precisam conhecer o destino”. Ao que TomĂ© responde: “Um momento, Senhor. Isso nĂŁo faz sentido. Se nĂŁo sabemos qual Ă© o destino, como podemos conhecer o caminho?”

Respondendo Ă  pergunta de TomĂ©, Jesus se utiliza de sua sexta afirmação “Eu Sou” no Evangelho de JoĂŁo. Ele diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. NinguĂ©m vem ao Pai, a nĂŁo ser por mim” (v. 6). Jesus Ă© a Ășnica via de acesso a Deus. Sua exclusividade quanto a este propĂłsito Ă© indiscutĂ­vel. Existe um Ășnico caminho para a Casa do Pai e seu nome Ă© Jesus Cristo.

Ele Ă© o exclusivo caminho porque somente ele Ă© a Palavra encarnada, a revelação do prĂłprio Deus, como JoĂŁo disse no capĂ­tulo 1. Deus nĂŁo tem outro meio de mostrar-se ao ser humano a nĂŁo ser por sua Palavra, escrita ou encarnada. Logo, a raça humana sĂł pode achegar-se a Deus por meio do Verbo, “que se tornou carne e habitou entre nĂłs” (1.14 – ARA).

Jesus nĂŁo Ă© apenas o caminho para a casa do Pai. Ele Ă© a verdade de Deus, sua completa revelação, a plenitude da Divindade, a imagem do Deus invisĂ­vel. Ele Ă© “o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 JoĂŁo 5.20), manifestada para se entregar “pela vida no mundo” (6.51).

Um dos mais belos comentårios sobre este trecho é o escrito por Tomås de Kempis, em sua obra Imitação de Cristo, do século XV, que diz:

Sigam-me. Eu sou o caminho e a verdade e a vida. NĂŁo Ă© possĂ­vel andar fora do caminho, nĂŁo Ă© possĂ­vel conhecer fora da verdade, nĂŁo Ă© possĂ­vel viver fora da vida. Eu sou o caminho pelo qual vocĂȘs devem andar; a verdade na qual vocĂȘs devem crer; a vida na qual vocĂȘs devem pĂŽr sua esperança. Eu sou o caminho inerrante, a verdade infalĂ­vel, a vida infindĂĄvel. Eu sou o caminho reto, a verdade absoluta, a vida verdadeira, bendita, nĂŁo-criada. Se vocĂȘs permanecerem no meu caminho conhecerĂŁo a verdade, e a verdade os libertarĂĄ, e tomarĂŁo posse da vida eterna.

Chegar Ă  presença de Deus por meio de Jesus Cristo Ă© a Ășnica maneira de conhecĂȘ-lo de verdade. É exatamente isso que Jesus diz a seguir: “Se vocĂȘs realmente me conhecessem, conheceriam tambĂ©m o meu Pai. JĂĄ agora vocĂȘs o conhecem e o tĂȘm visto” (v. 7). O que Jesus quer dizer com estas palavras Ă© que os discĂ­pulos chegaram ao conhecimento do Pai e que isso sĂł lhes fora possĂ­vel porque eles conheceram o Filho. A realidade clara disso Ă© que, no Filho, eles estavam tendo um relacionamento direto com o Pai. AlĂ©m do mais, ainda que eles tivessem conhecido o Pai nos trĂȘs anos anteriores por meio de seu relacionamento ministerial com Cristo, o conheceriam ainda mais por meio da morte sacrificial e da ressurreição do Senhor.

2. A RELAÇÃO INDIVISÍVEL ENTRE O FILHO E O PAI

ApĂłs a apresentação do caminho para a casa do Pai, TomĂ© sai de cena e, agora, Filipe passa a dialogar com o Senhor. Filipe se mostrou um tanto quanto ignorante ou atĂ© inocente diante das afirmaçÔes anteriores de Jesus. O Senhor havia claramente exposto qual o nĂ­vel de seu relacionamento com o Pai ao dizer que conhecer o Filho significaria tambĂ©m conhecer a Deus, que de outra forma seria inacessĂ­vel. Seja por ignorĂąncia ou por inocĂȘncia, o pedido de Filipe deu ocasiĂŁo para que Jesus explicasse com clareza ainda maior a profundidade de seu elo com o Pai. Filipe pediu: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta” (v. 8).

Jesus responde ao pedido de Filipe mostrando uma verdade que Ă© contĂ­nua no Evangelho joanino: o relacionamento indivisĂ­vel entre o Filho e o Pai. Em 1.18, JoĂŁo diz: “NinguĂ©m jamais viu a Deus: O Deus unigĂȘnito, que estĂĄ no seio do Pai, Ă© quem o revelou”. Em 5.36, encontramos Jesus dizendo: “Eu tenho um testemunho maior que o de JoĂŁo; a prĂłpria obra que o Pai me deu para concluir, e que estou realizando, testemunha que o Pai me enviou”. Em 8.38, ele diz: “Eu estou dizendo o que vi na presença do Pai”. Em 10.15, ele diz: “Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a vida pelas ovelhas”.  Em 10.30: “Eu e o Pai somos um”. Em 10.38: “[…] para que possam saber e entender que o Pai estĂĄ em mim, e eu no Pai”. Em 16.15: “Tudo que pertence ao Pai Ă© meu”. Em 16.28: “Eu vim do Pai e entrei no mundo; agora deixo o mundo e volto para o Pai”. Em 17.11: “Pai santo, protege-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um”. E em 17.21: “Pai, que todos sejam um, como tu estĂĄs em mi e eu em ti”. Aqui estĂĄ uma infinidade de textos apenas do Evangelho de JoĂŁo que poderiam ser utilizados pelo Senhor para lembrar Filipe que ele jĂĄ conhecia o Pai e que, portanto, seu pedido jĂĄ havia sido atendido.

Reafirmando esta verdade o Senhor Jesus diz: “VocĂȘ nĂŁo me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocĂȘs durante tanto tempo? Quem me vĂȘ, vĂȘ o Pai. Como vocĂȘ pode dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? VocĂȘ nĂŁo crĂȘ que eu estou no Pai e que o Pai estĂĄ em mim?” (vv. 9-10b). Os questionamentos de Jesus sĂŁo, obviamente, todos retĂłricos e nĂŁo exigiam uma resposta de Filipe. A prova que Jesus apresenta para mostrar que ele Ă© o Pai sĂŁo unĂąnimes em um sĂł propĂłsito Ă© incontestĂĄvel: Ele falava e fazia o que o Pai queria que ele falasse e fizesse. Ele diz assim: “As palavras que eu digo nĂŁo sĂŁo apenas minhas. Ao contrĂĄrio, o Pai, que vive em mim, estĂĄ realizando a sua obra. Creiam em mim quando digo que estou no Pai e que o Pai estĂĄ em mim; ou pelo menos creiam por causa das mesmas obras” (v. 10b-11).

Os discípulos, como atesta a colocação de Filipe mesmo diante de toda a revelação anterior de Jesus, eram muito tardios em compreender muitas verdades expostas pelo Senhor. Todavia, como é possível notar em seu testemunho posterior, eles não demonstravam dificuldades em crer e anunciar tais verdades, uma vez que elas haviam sido compreendidas. Mesmo que no início eles tiveram dificuldades para compreender a doutrina bíblica da trindade conforme exposta por Jesus, posteriormente, eles a anunciaram direta e indiretamente em seus ministérios. Veja como exemplos os seguintes textos: Romanos 8.14-17; 15.16,30; 1Coríntios 2.10-16; 6.11,14,15,19,20; 12.4-6; 2Coríntios 1.21-22; 13.13; Efésios 1.3-14; 4.4-6; 2Tessalonicenses; Tito 3.4-6; 1Pedro 1.1-2; Judas 1.20-21.

3. UM ESTÍMULO AO TRABALHO E À ORAÇÃO

ApĂłs falar que ele iria para a Casa do Pai, que iria preparar-lhes lugar, e que, quando chegasse o momento oportuno, ele retornaria para levĂĄ-los consigo; apĂłs falar que ele Ă© o Ășnico caminho para o Pai, principalmente porque ele e o Pai sĂŁo apenas um, o Senhor Jesus diz que outro grande benefĂ­cio de sua partida estaria no fato de que seus discĂ­pulos seriam habilitados para continuar o ministĂ©rio que ele começou, fazendo, inclusive, obras maiores que as dele. O texto diz: “Aquele que crĂȘ em mim farĂĄ tambĂ©m as obras que tenho realizado. FarĂĄ coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai” (v. 12). Em 5.2, apĂłs curar o paralĂ­tico no tanque de Betesda, o Senhor Jesus disse que ele mesmo faria obras maiores do que aquela. Agora os discĂ­pulos recebem a promessa de que eles fariam obras maiores do que as que Jesus havia feito.

Obviamente, Jesus não estå falando que seus discípulos teriam mais poderes do que ele, mas realizariam obras maiores em extensão e em alcance. O foco aqui é claro. Jesus não se refere somente a milagres físicos, mas principalmente a milagres espirituais realizados por meio da obra do Espírito Santo que, após a sua partida, passaria a habitar os crentes, concedendo-lhes poder (Atos 1.8). De fato, somente mediante a ação do Espírito é que os discípulos seriam preparados para realizar tais obras maiores que as de Jesus. E tal situação é consoladora em face da partida de Jesus porque o Consolador, o Espírito Santo, só seria enviado quando Jesus partisse, conforme nos relatam os versículos 26 deste mesmo capítulo e 39 do capítulo 7. Uma questão importante aqui é que as obras dos discípulos seriam maiores também pelo fato de que seriam realizadas com base na obra completa do Senhor Jesus. Sobre isso, Donald Carson diz:

Em suma, as obras que os discípulos realizam após a ressurreição são maiores que aquelas feitas por Jesus antes de sua morte, na medida em que aquelas pertencem a uma era de clareza e poder introduzidos pelo sacrifício e exaltação de Jesus. As palavras de Jesus e suas obras era, de alguma forma, veladas durante os dias de sua carne; mesmo seus mais próximos seguidores, como os versículos anteriores deixam claro, entenderam somente uma parte do que ele estava dizendo.

O cumprimento das promessas de Jesus estĂĄ narrado no livro de Atos. Por exemplo, nos primeiros dias apĂłs a partida de Jesus para o Pai, apĂłs um sermĂŁo de Pedro, trĂȘs mil pessoas foram batizadas. A partir daĂ­, a narrativa de Atos mostra como a ação do EspĂ­rito Santo foi fundamental na eficiĂȘncia do testemunho dos discĂ­pulos ao redor do mundo. E, sem dĂșvida, eles impactaram o mundo (Atos 17.6), arrebanhando mais seguidores para o Senhor Jesus do que durante o seu ministĂ©rio pessoal na Galileia e na Judeia. Estas obras maiores ainda sĂŁo as obras de Cristo, mas feitas sem sua presença fĂ­sica; feitas, sim, pelo EspĂ­rito dentro dos seguidores de Jesus.

Outro consolo recebido pelos discĂ­pulos Ă© o fato de que, para darem continuidade ao trabalho do Mestre, eles receberiam das mĂŁos do Pai (cf. 16.23) o que fosse necessĂĄrio, quando o pedissem em nome de Jesus. O texto diz assim: “Eu farei o que vocĂȘs pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocĂȘs pedirem em meu nome, eu farei” (v. 13-14). Infelizmente, muitos interpretam erroneamente este texto e, com base nesta interpretação falha, formulam uma teologia da oração completamente antibĂ­blica. Eles tĂȘm visto o nome de Jesus como um amuleto que garante que absolutamente tudo que for pedido em oração serĂĄ necessariamente atendido conforme solicitado. Segundo eles, quando uma petição feita a Deus nĂŁo Ă© respondida, Ă© por falta de fĂ© daquele que pede.

Todavia, quando o texto Ă© analisado com o mĂ­nimo critĂ©rio, Ă© possĂ­vel notar que o propĂłsito do Senhor Ă© fornecer a oração como um recurso para que eles peçam ao Pai o que for necessĂĄrio para dar continuidade Ă  sua obra. Em outras palavras ele estĂĄ dizendo: Eu estou indo embora para a Casa do Pai preparar um lugar para vocĂȘs. Logo eu voltarei para buscĂĄ-los para que estejamos sempre juntos. Por enquanto, vocĂȘs vĂŁo continuar a minha obra atĂ© que chegue o momento de eu voltar. E para que vocĂȘs continuem o meu trabalho, eu fornecerei um recurso importantĂ­ssimo para que vocĂȘs o utilizem para o benefĂ­cio do meu Reino. Este recurso Ă© a oração. Utilizem-no para os propĂłsitos do meu Reino, para minha glĂłria. Se vocĂȘs o utilizarem assim, eu sempre os ouvirei.

Ou seja, pedir em nome de Jesus nĂŁo Ă© apenas utilizar uma expressĂŁo no final de uma oração. É, sobretudo, falar com Deus com o propĂłsito de que seu Reino esteja continuamente em expansĂŁo e, como consequĂȘncia disso, glorifique o Pai e o Filho. É possĂ­vel ver que Ă© exatamente (para nĂŁo dizer exclusivamente) assim que a oração Ă© utilizada pelos apĂłstolos em sua vida e ministĂ©rio. Vejamos os seguintes textos como exemplos: Atos 8.15; 13.3-4; Romanos 15.30-31; EfĂ©sios 6.18-20; Colossenses 1.9; 4.3-4; 1Tessalonicenses 3.9-10; 5.25; 2Tessalonicenses 3.1-2; Hebreus 13.18.

CONCLUSÃO E APLICAÇÕES

À luz das verdades apresentadas ao longo deste breve comentĂĄrio, Ă© possĂ­vel chegar a algumas conclusĂ”es. Talvez a mais clara delas seja o fato de que o Senhor Jesus Ă© o grande consolo do cristĂŁo, mesmo em meio Ă  angĂșstia, ao desespero e ao medo. Esse consolo Ă© garantido, nĂŁo apenas pela certeza do retorno de Cristo. NĂŁo Ă© apenas um consolo futuro e profĂ©tico. É tambĂ©m presente no agora. Isso quer dizer que hoje mesmo o crente pode desfrutar do consolo de Cristo. Primeiro, porque ele Ă© o Ășnico caminho para a Casa do Pai; depois, porque ele os capacita a dar continuidade Ă  sua obra disponibilizando recursos maravilhosos para isso. A habitação do EspĂ­rito Santo Ă© um conforto sem igual. E como se nĂŁo bastasse, a certeza de que o Pai ouve nossas oraçÔes atravĂ©s de Jesus Ă© algo que nĂŁo cabe no vocabulĂĄrio humano.

Uma coisa maravilhosa é saber que Jesus Cristo irå voltar a despeito das falhas e fracassos de seu povo. A promessa de seu retorno glorioso não é condicionada às açÔes de quem quer que seja. Ele irå voltar e ponto. No tempo oportuno, ele aparecerå no céu e reunirå os seus eleitos que, a partir de então, estarão para sempre em sua gloriosa presença.

Talvez alguns fiquem angustiados ou temerosos ao ouvir palavras como essas. Talvez se sintam inseguros ou despreparados para se encontrar com ele. É preciso lembrar que diante da angĂșstia dos discĂ­pulos, foi justamente a promessa de que Jesus iria voltar para levĂĄ-los Ă  Casa do Pai que os confortou.

A certeza de que um dos quartos que Jesus foi preparar na casa do Pai pode ser experimentada mediante o arrependimento de pecados e o clamor pela misericórdia do Senhor. Aquele que passar a desfrutar dessa certeza irå viver uma vida de alegria, dirigida pelo Espírito Santo; receberå das mãos do Senhor todos os recursos necessårios para dar continuidade ao que Jesus começou; irå anunciar o seu Reino e a sua Palavra por todos os dias de sua vida; e finalmente, quando chegar o momento, irå para a Casa do Pai, onde irå desfrutar de sua gloriosa presença por toda a eternidade.

Amém.

 

NĂșcleo do Conhecimento

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA AUXILIADORA

 

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA AUXILIADORA

Ó Santíssima e Imaculada Virgem Maria, Terníssima Mãe Nossa e Poderoso Auxílio dos Cristãos, nós nos consagramos inteiramente ao vosso doce amor e ao vosso santo serviço.

Consagramos-vos a mente com seus pensamentos, o coração com seus afetos, o corpo com seus sentidos e com todas as suas forças, e prometemos querer sempre trabalhar para a maior glória de Deus e a Salvação das Almas.

VĂłs, entretanto, Ăł Virgem IncomparĂĄvel, que fostes sempre a Auxiliadora do povo cristĂŁo, continuai, por piedade, a mostrar-vos tal, especialmente nestes dias.

Humilhai os inimigos de nossa Santa ReligiĂŁo frustrai seus perversos intentos.

Iluminai e fortificai os Bispos e os Sacerdotes, e conservai-os sempre unidos obedientes ao Papa, mestre infalĂ­vel; preservai da religiĂŁo e do vĂ­cio a incauta mocidade; promovei as santas vocaçÔes e aumentai o nĂșmero dos ministros sagrados, a fim de que, por meio deles, se conserve o reino de Jesus Cristo entre nĂłs e se estenda atĂ© os Ășltimos confins da terra.

Suplicamos-vos também, ó Dulcíssima Mãe nossa, lanceis continuamente vossos olhares piedosos sobre a incauta mocidade rodeada de tantos perigos, sobre os pobres pecadores e moribundos; sede para todos, ó Maria, doce esperança, Mãe de misericórdia e Porta do Céu.

Mas também por nós vos suplicamos, ó Grande Mãe de Deus, ensinai-nos a copiar em nós vossas virtudes, e de um modo especial vossa angélica modéstia, a fim de que, por quanto for possível, com nossa presença, com nossas palavras e com nosso exemplo, representemos ao vivo no meio do mundo a Jesus, vosso bendito Filho, vos façamos conhecer e amar, e possamos por este meio salvar muitas almas.

Fazei mais, Ăł Maria Auxiliadora, que estejamos todos unidos debaixo do vosso maternal manto.

Fazei que nas tentaçÔes vos invoquemos logo com toda a Confiança.

Fazei, enfim, que o pensamento de que sois tão boa, tão amåvel e tão querida, a lembrança do amor que tendes aos vossos devotos, nos conforte de tal modo que, na vida e na morte, saiamos vitoriosos contra os inimigos de nossa alma, e possamos depois unir-nos convosco no Paraíso.

Amém.

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DESATADORA DOS NÓS

 

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DESATADORA DOS NÓS

Virgem Maria, MĂŁe de Jesus, que nunca deixa de me amparar e vir em meu socorro, e a quem Deus encarregou de Desatar os NĂłs da Vida dos Seus Filhos (as) Aflitos (as), em suas mĂŁos nĂŁo hĂĄ nĂł que nĂŁo poderĂĄ ser desfeito.

A Senhora bem conhece o meu desespero, a minha dor, volta o seu olhar sobre mim, e vĂȘ o emaranhado de nĂłs que hĂĄ em minha vida, e o quanto estou amarrado (a) por causa destes nĂłs.

Mãe Poderosa, por sua graça e seu poder intercessor junto a Seu Filho Jesus, ninguém, nem mesmo o maligno poderå me tirar do Seu Precioso Amparo, portanto Eu Confio à Senhora a Fita da Minha Vida.

Recebe em suas mãos este nó que estå amarrando minha vida, e eu humildemente te peço para desatå-lo para a Glória de Deus, e para todo o sempre.

(fazer o pedido)

Que todas as dificuldades sejam superadas, que todas as barreiras sejam derrubadas, que todos os caminhos se abram e que surjam todas as oportunidades de bem, a mim reservadas por Deus.

E humildemente peço que ninguĂ©m tenha a Força e o Poder de me prejudicar, que nada tenha a Força e o Poder de interferir em Minha Vida, em Meu Trabalho e Minha SaĂșde.

A Senhora que Ă© Minha Esperança, a Minha Consolação, a Minha Força, Ouve Minha SĂșplica, me Guarda, me Guia e me Protege, Seguro RefĂșgio!

E Ă  Senhora serei profundamente grato (a) para sempre.

Assim seja.

Amém.