segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

NÃO PENSE DUAS VEZES

 

NÃO PENSE DUAS VEZES...

A felicidade é um susto.

Chega na calada da noite, na fala do dia, no improviso das horas.

 Chega sem chegar, insinua mais que propõe...

Felicidade é animal arisco.

Tem que ser admirada à distância porque não aceita a jaula que preparamos para ela.

Vê-la solta e livre no campo, correndo com sua velocidade tão elegante é uma sublime forma de possuí-la.


Felicidade é chuva que cai na madrugada, quando dormimos.

O que vemos é a terra agradecida, pronta para fecundar o que nela está sepultado, aguardando a hora da ressurreição.


Felicidade é coisa que não tem nome.

É silêncio que perpassa os dias tornando-os mais belos e falantes.

Felicidade é carinho de mãe em situação de desespero.

É olhar de amigo em horas de abandono.

É fala calmante em instantes de desconsolo.


Felicidade é palavra pouca que diz muito.

É frase dita na hora certa e que vale por livros inteiros.


Eu busco a frase de cada dia, o poema que me espera na esquina, o recado de Deus escrito na minha geladeira...

Eu vivo assim...

Sem doma, sem dona, sem porteiras, porque a felicidade é meu destino de honra, meu brasão e minha bandeira.

Eu quero a felicidade de toda hora.

Não quero o rancor, não quero o alarde dos artifícios das palavras comuns, nem tampouco o amor que deseja aprisionar meu sonho em suas gaiolas tão mesquinhas.


O que quero é o olhar de Jesus refletido no olhar de quem amo.

Isso sim é felicidade sem medidas.

O café quente na tarde fria, a conversa tão cheia de humor, o choro vez em quando.


Felicidades pequenas...

O olhar da criança que me acompanha do colo da mãe, e que depois, à distância, sorri segura, porque sabe que eu não a levarei de seu lugar preferido.


A felicidade é coisa sem jeito, mas com ela eu me ajeito.

Não forço para que seja como quero, apenas acolho sua chegada, quando menos espero.


E então sorrio, como quem sabe, que quando ela chega, o melhor é não dispersar as forças...

E aí sou feliz por inteiro na pequena parte que me cabe.


O que hoje você tem diante dos olhos?

 Merece um sorriso?

Não pense duas vezes...

 

Padre Fábio de Melo

 

NÃO ESTAMOS SÓS

 

NÃO ESTAMOS SÓS

A comunhão que o coração de Deus nos inspira torna-nos participantes de outras histórias.

Não estamos sós.

Em algum lugar, um coração sofre semelhante angústia.

E busca e deseja o aprimoramento do modo de ser e estar no mundo.

Sei que queres o aprimoramento do teu ser.

Primeiros passos já foram dados.

Hoje és mais livre do que foste ontem, afinal o querer é a primeira configuração do realizar.

Ele é essência do ato de ser livre, e por meio dele nos inserimos na dinâmica da vida.

Quem não alimenta o seu querer, mesmo que ainda respire, pode se considerar morto.

Mais vivo do que nunca vou ficando por aqui.

Desculpe-me ter invadido a tua casa.

Não sei se cheguei em boa hora!

Desconsidera tudo o que julgar desnecessário.

Falar sozinho é sempre um risco, afinal as intervenções alteram e purificam os pontos de vista e as compreensões.

Tens agora em tuas mãos um discurso ou uma pregação – como diria um outro amigo meu, mas eu te asseguro que é um prosear bem-intencionado, fruto de um coração irmão que no silêncio da prece luta contigo!

Padre Fábio de Melo

 

MUDANÇA DE FOCO

 

MUDANÇA DE FOCO

Aprendi muito cedo que o sonho é mais que a realidade.

No sonho, o cruel se desfaz com a mudança de foco.

É simples.

É só deixar de pensar.

Se a paixão não convém é só trocar a cara.

Fácil de resolver.

A imaginação permite retoques, mudanças constantes.

De Belo Horizonte a Paris eu levo um segundo.

Não pago passagem, nem tenho problema com excesso de bagagem.

Eu vou leve.

Esqueço as roupas, volto pra buscar.

Troco a cena.

Mudo o clima.

Faço vir a chuva pra dormir logo.

Invoco o sol para o meu mergulho e imagino a neve para amenizar o calor.

Acendo lareiras nas noites frias; encontro a promissória perdida; ganho na loteria, e divido o prêmio com os pobres.

Na angústia, adio a decisão.

Na agonia, antecipo o fim.

Na alegria, prolongo o início.

Padre Fábio de Melo