CATIVEIRO E RESGATE
A sabedoria popular nos ensina que há sempre um aprendizado a ser recolhido depois da dor.
É verdade.
As alegrias costumam ser preparadas no silêncio das duras esperas.
Não é justo que o ser humano passe pelas
experiências de calvários sem que delas nasçam experiências de ressurreições.
Por isso, depois do cativeiro, o aprendizado.
Ao ser resgatado, o sequestrado reencontra-se com seu mundo particular de modo diferente.
A experiência da distância nos ajuda a mensurar o
valor e o sequestrado, depois de livre, mergulha nesta verdade.
Antes da necessidade do pagamento do resgate, da vida livre, sem cativeiro,
corria-se o risco da sensibilidade velada.
A vida propicia a experiência do costume.
O ser humano acostuma-se com o que tem, com o que ama, e somente a ruptura com o que se tem e com o que se ama abre-lhe os olhos para o real valor de tudo o que estava ao seu redor.
As prisões podem nos fazer descobrir o valor da
liberdade.
As restrições são prenhes de ensinamentos.
Basta saber parturiar, fazer vir à luz o que nelas
está escondido.
A ausência ainda é uma forma interessante de mensurar o que amamos e o que
queremos bem.
Passar pela experiência do cativeiro, local da
negação absoluta de tudo o que para nós tem significado, conduz-nos ao cerne
dos valores que nos constituem.
O resgate, o pagamento que nos dá o direito de voltar ao que é nosso, condensa
um significado interessante.
Ele é devolução.
É como se fôssemos afastados de nossa propriedade, e de longe alguém nos mostrasse a beleza do nosso lugar, dizendo: “Já foi seu, mas não é mais.
Se quiser voltar, terá que comprar de novo! ”Compramos de novo o que sempre foi nosso.
Estranho, mas esse é o significado do resgate.
Distantes do que antes era tão próximo, recobramos de um jeito novo.
Redescobrimos os detalhes, as belezas silenciosas que, com o tempo, desaprendemos a perceber.
A visão ao longe é reveladora.
Vemos mais perto, mesmo estando tão longe.
Olhamos e não conseguimos entender como não éramos
capazes de reconhecer a beleza que sempre esteve ali, e que nem sempre fomos
capazes de perceber.
No momento da ameaça de perder tudo isso, o que mais desejamos é a nova
oportunidade de refazer a nossa vida, nosso desejo é voltar, reencontrar o que
havíamos esquecido, reintegrar o que antes perdido ignorado, abandonado.
O que desejamos é a possibilidade de um retorno que
nos possibilite ver as mesmas coisas de antes, mas de um jeito novo,
aperfeiçoado pela ausência e pela restrição.
Depois do resgate, o desejo de deitar a toalha branca sobre a mesa, colocar os
talheres de ocasião sobre mesa farta.
Fartura de sabores e pessoas que nos fazem ser o
que somos!
Refeição é devolução!
Da mesma forma como o alimento devolve ao corpo os nutrientes perdidos, a presença dos que amamos nos devolve a nós mesmos (as).
Sentar à mesa é isso.
Nós nos servimos de alimentos e de olhares.
Comungamos uns aos outros, assim como o corpo se incorpora da vida que o alimento lhe devolve.
A mesa é o lugar onde as fomes se manifestam e são curadas.
Fome de pão, fome de amor!
Depois do cativeiro, a festa de retorno, assim como na parábola bíblica que
conta a história do filho que retornou depois de longo tempo de exílio.
Distante dos nossos significados, não há possibilidade de felicidade.
Quem já foi sequestrado sabe disso.
Por isso, depois do sequestro, a vida nunca mais poderá ser a mesma.
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