sexta-feira, 1 de março de 2024

COMPREENSÃO E LOUCURA

 

COMPREENSÃO E LOUCURA

Perguntais-me como me tornei louco ou louca.

Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando:

“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:

 “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo.

O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras.

E, como num transe, gritei:

“Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco ou louca.

E encontrei tanta liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido ou compreendida, pois aquele ou aquela que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

 

Khalil Gibran

 

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