POR QUE NÃO RECEBEMOS MAIS?
Porque muitas vezes nos cansamos de pedir.
Agimos como filhos rebeldes que ficam emburrados
diante de um não dos pais ou diante de uma
correção. Como filhos, temos que pedir sempre, sem
jamais desanimar, pois quem sabe que tem um Pai que
o ama não vive como filho bastardo ou rebelde, mas
reconhece sua pequenez diante da grandeza de Deus.
O papa Francisco diz: “Todos experimentamos
momentos de cansaço e desânimo, principalmente
quando nossa oração parece ineficaz”. Mas Jesus nos
garante: “Diferente do juiz desonesto, Deus ouve prontamente
seus filhos, mesmo que isso não signifique que
o faça nos tempos e da maneira que nós queremos. A
oração não é uma varinha mágica!”.
A parábola evangélica de Lc 18,1-8 contém um
ensinamento importante: “a necessidade de rezar sempre,
sem jamais se cansar” (v. 1). Portanto, não se
trata apenas de rezar algumas vezes, quando sentimos
vontade. Não, Jesus diz que é preciso “rezar sempre,
sem jamais se cansar”. E apresenta o exemplo da viúva
e do juiz.
O juiz é um personagem poderoso, chamado a
emitir sentenças baseadas na Lei de Moisés. Por isso
a tradição bíblica recomendava que os juízes fossem
pessoas tementes a Deus, dignas de fé, imparciais e
incorruptíveis (cf. Ex 18,21). Ao contrário, este juiz
“não temia a Deus, nem respeitava homem algum”
(v. 2). Era um juiz iníquo, sem escrúpulos, que não
observava a Lei, mas fazia o que queria, segundo seu
interesse.
A ele se dirige uma viúva para ter justiça. As
viúvas, junto com os órfãos e os estrangeiros, eram
as categorias mais frágeis da sociedade. Os direitos
assegurados a eles pela Lei podiam ser pisados com
facilidade, porque, sendo pessoas sozinhas e sem defesa,
dificilmente recebiam apoio: uma viúva, ali, sozinha,
não era defendida por ninguém, podiam ignorá-la,
não eram justos com ela. Assim era também o órfão,
o estrangeiro, o migrante.
Diante da indiferença do juiz, a viúva recorre à sua
única arma: continuar insistentemente a importuná-lo,
apresentando-lhe seu pedido de justiça. E justamente
com esta perseverança alcança o objetivo. O juiz,
de fato, em um certo ponto, escuta-a, não porque é
movido por misericórdia, nem porque a consciência
o impõe. Ele simplesmente admite: “Mas esta viúva já
está me importunando. Vou fazer-lhe justiça, para que
ela não venha, por fim, a me agredir!” (v. 5).
Dessa parábola Jesus tira duas conclusões: se a
viúva conseguiu dobrar o juiz desonesto com seus
pedidos insistentes, quanto mais Deus, que é Pai bom
e justo, “não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e
noite gritam por ele?”. E, além disso, não “vai fazê-los
esperar”, mas agirá “bem depressa” (vv. 7-8).
Por isso, Jesus exorta a rezar “sem jamais se cansar”.
Todos nós experimentamos momentos de cansaço
e desânimo, principalmente quando nossa oração
parece ineficaz. Mas Jesus nos garante: diferente do
juiz desonesto, Deus ouve prontamente Seus filhos,
mesmo que isso não signifique que o faça nos tempos
e da maneira que nós queremos. A oração não é uma
varinha mágica! Ela ajuda a conservar a fé em Deus e
a confiar Nele, mesmo quando não compreendemos
a Sua vontade. Nesse sentido, o próprio Jesus – que
rezava muito – é um exemplo para nós.
A Carta aos Hebreus recorda que “Ele, nos dias de
sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte
clamor e lágrimas, àquele que tinha poder de salvá-lo
da morte. E foi atendido, por causa de sua piedosa
submissão” (5,7). À primeira vista, esta afirmação parece
improvável, porque Jesus morreu na cruz. A Carta aos
Hebreus não erra: Deus verdadeiramente salvou Jesus
da morte, dando-Lhe sobre ela a completa vitória, mas
o caminho percorrido para obtê-la passou através da
própria morte!
A referência à súplica que Deus ouviu diz respeito
à oração de Jesus no Getsêmani. Tomado por uma angústia
profunda, Jesus reza ao Pai para que o liberte do
cálice amargo da paixão, mas a Sua oração é permeada
pela confiança no Pai e se confia sem reservas à Sua
vontade: “Porém – diz Jesus – não seja feito como eu
quero, mas como tu queres” (Mt 26,39). O objeto
da oração passa em segundo plano; o que importa,
antes de tudo, é a relação com o Pai. É isso que a
oração faz: transforma o desejo e o modela segundo
a vontade de Deus, qualquer que seja, porque quem
reza aspira, antes de tudo, à união com Deus, que é
Amor misericordioso.
A parábola termina com uma pergunta: “Mas o
Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar
fé sobre a terra?” (v. 8). E com essa pergunta todos
nos colocamos em vigilância: não devemos desistir
da oração, mesmo que ela não seja correspondida. É
a oração que conserva a fé, sem ela a fé vacila! Peçamos
ao Senhor uma fé que se faz oração incessante,
perseverante, como aquela da viúva da parábola. Uma
fé que se nutre do desejo da Sua vinda. E na oração
experimentamos a compaixão de Deus, que, como um
Pai, vem ao encontro de Seus filhos pleno de amor
misericordioso.
Pe. João Marcos Polak
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