segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

FALAR COM DEUS

 

FALAR COM DEUS

Invocar-me-eis e Eu vos atenderei (Ier XXIX, 12). E nós o

invocamos conversando com Ele, dirigindo-nos a Ele. Por isso,

temos que por em prática a exortação do Apóstolo: Sine intermissione

orate (1 Thes, V, 17); rezai sempre, aconteça o que

acontecer. Não só de coração, mas de todo o coração (S. Ambrósio,

Expositio in Psalmum CXVIII, XIX, 12 -PL 15, 1471).

Talvez se pense que a vida nem sempre é fácil de levar, que

não faltam dissabores e penas e tristezas. Responderei, também

com São Paulo, que nem a morte, nem a vida, nem os anjos,

nem os principados, nem as virtudes; nem o presente, nem

o futuro, nem a força, nem o que há de mais alto, nem de mais

profundo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos

jamais do amor de Deus, que se fundamenta em Jesus Cristo

Nosso Senhor (Rom VIII, 38-39). Nada nos pode afastar da caridade

de Deus, do Amor, da relação constante com o nosso Pai.

Recomendar esta união contínua com Deus, não será apresentar

um ideal tão sublime, que se revele inacessível à maioria

dos cristãos? Na verdade, alta é a meta, mas não inacessível.

A senda que conduz à santidade é senda de oração, e a oração

deve vingar pouco a pouco na alma, como a pequena semente

que se converterá mais tarde em árvore frondosa.

Começamos com orações vocais, que muitos de nós repetimos

quando crianças: são frases ardentes e singelas, dirigidas

a Deus e à sua Mãe, que é nossa Mãe. Ainda hoje, de manhã

e à tarde, não um dia, mas habitualmente, renovo aquele oferecimento

de obras que me ensinaram meus pais: O’ Senhora

minha, ó minha Mãe! Eu me ofereço todo a Vós. E, em prova do

meu afeto filial, vos consagro neste dia os meus olhos, os meus

ouvidos, a minha boca, o meu coração... Não será isto - de certa

maneira - um princípio de contemplação, demonstração evidente

de confiado abandono? O que é que dizem um ao outro

os que se amam, quando se encontram? Como se comportam?

Sacrificam tudo o que são e tudo o que possuem pela pessoa

amada.

Primeiro, uma jaculatória, e depois outra, e mais outra..., até

que parece insuficiente esse fervor, porque as palavras se tornam

pobres..., e se dá passagem à intimidade divina, num olhar

para Deus sem descanso e sem cansaço. Vivemos então como

cativos, como prisioneiros. Enquanto realizamos com a maior

perfeição possível, dentro dos nossos erros e limitações, as tarefas

próprias da nossa condição e do nosso ofício, a alma anseia

escapar-se. Vai-se rumo a Deus, como o ferro atraído pela

força do ímã. Começa-se a amar a Jesus de forma mais eficaz,

com um doce sobressalto.

Eu vos livrarei do cativeiro, estejais onde estiverdes (Ier

XXIX, 14). Livramo-nos da escravidão pela oração: sabemo-nos

livres, voando num epitalâmio de alma apaixonada, num cântico

de amor, que impele a não desejar afastar-se de Deus. Um

novo modo de andar na terra, um modo divino, sobrenatural,

maravilhoso. Recordando tantos escritores castelhanos quinhentistas,

talvez nos agrade saborear isto por nossa conta:;

vivo porque não vivo; é Cristo que vive em mim! (Cfr. Gal II,

20).

Aceita-se com gosto a necessidade de trabalhar neste mundo

durante muitos anos, porque Jesus tem poucos amigos cá em

baixo. Não recusemos a obrigação de viver, de nos gastarmos -

bem espremidos - a serviço de Deus e da Igreja. Desta maneira,

em liberdade: in libertatem gloriae filiorum Dei (Rom VIII, 21),

qua libertate Christus nos liberavit (Gal IV, 31); com a liberdade

dos filhos de Deus, que Jesus Cristo nos conquistou morrendo

sobre o madeiro da Cruz.

É possível que, já desde o princípio, se levantem grandes

nuvens de pó e que, ao mesmo tempo, os inimigos da nossa

santificação empreguem um técnica tão veemente e tão bem

orquestrada de terrorismo psicológico - de abuso de poder - que

arrastem em sua absurda direção inclusive aqueles que durante

muito tempo mantinham outra conduta mais lógica e reta. E,

embora essa voz soe a sino rachado, que não foi fundido com

bom metal e é bem diferente dos silvos do pastor, desse modo

aviltam a palavra, que é um dos dons mais preciosos que o homem

recebeu de Deus, dádiva belíssima para manifestar altos

pensamentos de amor e de amizade ao Senhor e às suas criaturas;

a tal ponto que se chega a entender por que São Tiago diz da

língua que ela é um mundo inteiro de malícia (Iac III, 6), tantos

são os males que pode causar: mentiras, detrações, desonras,

embustes, insultos, murmurações tortuosas.

Amém.

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