QUE É SER FELIZ?
Felicidade — eis o clamor de toda a creatura.
Todo o resto é meio; só a felicidade é um m.
Ninguém deseja ser feliz para algo; quer ser feliz para ser feliz.
A felicidade é a suprema autorrealização do ser.
QUE É SER FELIZ?
Ser feliz é estar em perfeita harmonia com a constituição do
Universo, consciente ou inconscientemente.
A natureza extra hominal é inconscientemente feliz, porque está
sempre, automaticamente, em harmonia com o Universo.
Aqui na terra só o homem pode ser conscientemente feliz — e
também conscientemente infeliz.
A natureza possui, por assim dizer, uma felicidade neutra, ou
inconsciente — o homem pode possuir uma felicidade positiva
ou uma infelicidade negativa.
Com o ser humano começa a bifurcação da
linha única da natureza; começa o estranho fenômeno da
liberdade em meio à universal necessidade.
A natureza só conhece um dever compulsório.
O ser humano conhece um querer espontâneo, seja rumo ao positivo, seja rumo ao negativo.
O desejo universal é a felicidade; e, no entanto, poucos seres
humanos se dizem felizes.
A imensa maioria da humanidade tem a potencialidade
ou a possibilidade de ser feliz; mas poucos têm a felicidade
atualizada ou realizada.
O poder-ser-feliz é uma felicidade incubada, porém
não nascida; ao passo que ser-feliz é uma felicidade eclodida.
QUAL É A RAZÃO ÚLTIMA POR QUE MUITOS SERES HUMANOS NÃO SÃO FELIZES,QUANDO O PODERIAM SER?
Passam a vida inteira, vinte, cinquenta, oitenta anos, marcando
passo no plano horizontal do seu ego externo, e ilusório —
nunca mergulharam nas profundezas verticais do seu Eu interno
e verdadeiro. E, quando a sua infelicidade se torna insuportável,
procuram atordoar, esquecer, narcotizar temporariamente esse
senso e essa infelicidade, por meio de diversos expedientes da
própria linha horizontal na qual a infelicidade nasceu.
Não compreendem o seu erro de lógica e matemática:
Que horizontal não cura horizontal,
assim como as águas de um lago não movem uma turbina colocada ao mesmo nível.
Somente o vertical pode mover o horizontal, assim
como somente as águas de uma cachoeira podem mover uma
turbina.
Quem procura curar os males do ego pelo próprio ego comete
um erro fatal de lógica ou de matemática.
Não há cura de igual a igual, mas tão somente de superior para inferior, de vertical para horizontal.
Camuflar com derivativos e escapismos a infelicidade não é
solucionar o problema; é apenas mascará-lo e transferir a
infelicidade para outro tempo — quando a infelicidade torna a se manifestar com dobrada violência.
Remediar é remendar — não é curar, erradicar o mal.
A cura e erradicação consiste unicamente na entrada em uma
nova dimensão de consciência e experiência.
Não consiste em uma espécie de continuísmo, mas sim em um
novo início, em uma iniciativa inédita, numa verdadeira iniciação.
Não se trata de “pôr remendo novo em roupa velha”, na
linguagem do Nazareno; trata-se de realizar a “nova creatura em
Cristo”, que é a transição da consciência do ego horizontal e
ilusório para a consciência do Eu vertical e verdadeiro.
Todos os mestres da humanidade afirmam que a verdadeira
felicidade do ser humano aqui na terra consiste em “amar o
próximo como a si mesmo (a)”.
Ou então em “fazer aos outros o que queremos
que os outros nos façam”.
Existe essa possibilidade de eu amar meu semelhante assim como amo a mim mesmo (a)?
Em teoria, muitos o afirmam; na prática poucos o fazem.
DE ONDE VEM ESSA DIFICULDADE?
Da falta de um verdadeiro autoconhecimento.
Pouquíssimos seres humanos têm uma visão nítida da sua genuína realidade interna.
Quase todos se identificam com alguma facticidade externa,
com o seu ego físico, seu ego mental ou seu ego emocional.
E por essa razão não conseguem realizar o amor-alheio igual ao
amor-próprio, não conseguem amar o seu próximo (a) como amam a si mesmos (as).
Alguns, num acesso de heroica estupidez, tentam amar o
próximo (a) em vez de amar a si mesmos (as), o que é
flagrantemente antinatural,
como também contrário a todos os mandamentos dos mestres da humanidade.
Todos sabem que o amor-próprio de todo ser vivo é a
quintessência do seu ser; nenhum ser vivo pode existir por um
só momento sem amar a si mesmo (a); esse amor-próprio é
idêntico à sua própria existência.
Amor Próprio não é necessariamente egoísmo.
Egoísmo é o Amor Próprio
exclusivista, ao passo que o verdadeiro Amor Próprio é
inclusivista, inclui todos os amores alheios no seu Amor Próprio,
obedecendo assim ao imperativo da natureza e à voz de todos
os mestres espirituais da humanidade.
Enquanto o ser humano marca passo no plano horizontal do seu
ego, o que pode haver em sua vida é guerra e armistício, mas
nunca haverá Paz.
Armistício é uma trégua entre duas guerras; é uma
guerra fria do ego, que amanhã pode explodir em guerra quente.
O Ego ignora totalmente o que seja a Paz.
O Ego de boa vontade assina armistícios temporários, o ego de
má vontade declara guerra de maior ou menor duração, mas
nem esse nem aquele sabe o que seja paz.
Em vésperas da sua morte, disse o Nazareno a seus discípulos:
“Eu vos dou a Paz, eu vos deixo a Minha Paz”.
E para evitar qualquer confusão entre Paz e Armistício, logo acrescentou:
“Não dou a Paz assim como o mundo a dá. Eu vos dou a Paz
para que Minha Alegria esteja em voz, seja perfeita a vossa
alegria, e nunca ninguém tire de vós a vossa alegria”.
Paz e Alegria duradouras nada têm a ver com guerra e
armistício, que são do ego, de boa ou má vontade.
A Paz e a Alegria permanentes são unicamente as do Eu Divino no Ser Humano.
E onde não houver Paz e Alegria permanentes não há Felicidade.
Onde não há Autoconhecimento, experiência da realidade divina
do Eu espiritual, não há Felicidade, Paz, Alegria.
Enquanto o ser humano conhece apenas o seu ego físico-
mental-emocional, vive ele no plano
da guerra e do armistício; quando descobre o seu Eu espiritual,
faz o grande tratado de Paz e de Alegria no Templo da Verdade
Libertadora.
Armistício, certamente, é melhor que guerra, mas não é Paz, e
por isso não garante felicidade duradoura ao ser humano.
Por essa razão, o ser humano, no plano da guerra e do
armistício infelizes, procura de todos os modos se esquecer, por
umas horas, por uns dias, por umas noites, de sua falta de
felicidade, indo à caça desenfreada de todas as diversões; uns
se narcotizam com dinheiro, negócios, comércio, indústria; com
ciências e artes; outros ainda se embriagam com luxúria sexual, com álcool e outros entorpecentes;
outros, os mais ricos, viajam de país em país, de mar em mar, e
enquanto isso se esquecem de sua infelicidade, julgam ser felizes.
Praticam, no mundo espiritual, o mesmo charlatanismo que
praticam no mundo material: reprimem os sintomas do mal por
meio de anestésicos e analgésicos e nunca chegam a erradicar a raiz do mal, que seria o autoconhecimento, e a subsequente
autorrealização, que lhes dariam saúde e paz definitivas.
Os mestres também deixaram perfeitamente claro que essa Paz
Durável, sólida, dentro do ser humano e entre os seres
humanos, não é possível no plano meramente horizontal do ego
para ego, mas exige imperiosamente a superação desse plano,
o ingresso na ignota zona da verticalidade do Eu.
Os grandes mestres, sobretudo o Cristo, não
convidaram os seus discípulos apenas para passar de um ego
de má vontade (vicioso) para um ego de boa vontade (virtuoso)
— a mensagem central de todos os mestres tem um caráter
metafísico, ontológico, cósmico; é a transição de todos e
quaisquer planos horizontais-ego para a grande vertical do Eu
da sabedoria, do “conhecimento da Verdade Libertadora”.
Quase todas as nossas teologias fazem crer que os mestres,
sobretudo o Divino Mestre, tenha convidado os seres humanos
apenas para que passassem da viciosidade para a virtuosidade
— quando eles os convidaram para
uma zona infinitamente além do vicioso e do virtuoso —, para a
região suprema da sabedoria, da compreensão do seu Eu divino,
que eles chamam Pai, Luz, Reino, Tesouro, Pérola Preciosa…
O ego de boa vontade é, certamente, melhor que o ego de má
vontade, mas só o Eu Sapiente está definitivamente remido de
todas as suas irredenções e escravidões.
Somente a Verdade, intuída e
vivida, é que dá Libertação Real e Definitiva.
A Felicidade, a Alegria, a Paz são os Frutos da Verdade
Libertadora.
Rohden.
Nenhum comentário:
Postar um comentário