terça-feira, 2 de julho de 2024

A FLOR E SEU NOME

 

A FLOR E SEU NOME

Mas o que impressiona mesmo no amor-perfeito é o nome.

Que responsabilidade, meu filho!

Há por aí uma planta chamada de amor-de-um-dia, que não carece muito esforço para ser e acontecer, como doidivanas.

Outra atende por amor-das-onze-horas e presume-se como sua vida é folgada.

Há também amor-de-vaqueiro, amor-de-hortelão, amor-de-moça, amor-de-negro... muitos amores vegetais que desempenham função limitada.

Mas este aqui não tem área específica, não se dirige a grupo, ocasião, profissão.

É absoluto, resume um ideal que vai além do poder das flores e dos seres humanos.

Que sentirá o amor-perfeito, sabendo-se assim nomeado?

Que tristeza lhe transfixará o veludo das pétalas , ao sentir que os homens que tal apelação lhe dera não são absolutamente perfeitos em seus amores?

Que aquele substantivo, casado a este adjetivo, sugere mais aspiração infrutífera da alma do que modelo identificável no cotidiano?

A tais perguntas o sóbrio amor-perfeito não responde.

O outono tampouco.

Talvez seja melhor não haver resposta.

Carlos Drummond de Andrade

 

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